Criado nos anos 1960 por Stan Lee e Jack Kirby, o Quarteto Fantástico é um patrimônio dos quadrinhos e ganha uma nova tentativa de adaptação para o cinema , estreando semana passada .Com direção de Josh Trank e roteiro de Jeremy Slater ('Renascida do Inferno'), Simon Kimberg ('Sherlock Holmes', 'X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido') e também Trank, a produção tenta modernizar a clássica história da origem do supergrupo e dar uma profundidade aos personagens que os filmes de 2005 e 2007 não conseguiram.
O visual da nova produção é menos cartunesco e mais realista, seguindo a escola de cinema-heroico-pé-no-chão iniciado por Christopher Nolan. O diretor Josh Trank também é especialista em fazer coisas fantásticas parecerem factíveis, já que o filme que o tornou famoso, ‘Poder sem Limites’, também é sobre personagens superpoderosos em um estilo realista. Muito se especulou sobre quanto da produção de 2012 se veria em no reboot de ‘Quarteto Fantástico’, mas isso se restringe aMichael B. Jordan, que trabalhou com o diretor naquele filme.
O roteiro foge do batido romance entre Reed Richards (Miles Teller) e Sue Storm (Kate Mara), foca mais na edificação da amizade entre o jovem gênio e seu amigo de força bruta Ben Grimm (Jamie Bell), na relação familiar do Dr. Storm com os filhos Johnny (Michael B. Jordan) e Sue e no complemento intelectual entre o apocalíptico e pessimista Victor Von Doom (Toby Kebbell) e o futuro Sr. Fantástico.
A transformação dos humanos em super heróis traz alguns contornos inéditos. Sai o foguete, entra o teleporte, a interação entre os personagens no acidente também sofre algumas mudanças. Os efeitos especiais são ótimos e a forma como eles descobrem seus poderes e os usam acabam lembrando algumas sequências dos quadrinhos. A forma como Reed, Ben, Sue e Johnny aplicam suas novas habilidades nas cenas de ação é explorada como nenhum dos outros dois filmes chegou a fazer.
Já o grande vilão, Dr. Destino, perdido desde o acidente, volta em sua forma maléfica (com grandes diferenças do visual dos quadrinhos) para acabar com o mundo. Mas parece que o mal dos roteiros dos novos filmes de heróis é que toda a energia dos roteiristas é gasta em apresentar as origens dos mocinhos que não sobra nada para os caras malvados, que são a razão da sua existência. A ascensão de Victor Von Doom, uma amostra de seus poderes (muito bons, por sinal) e seu plano de destruição (que entra em curso), tudo é colocado em cena em tão pouco tempo que parece durar menos que uma luta da Ronda Rousey.
Portanto, não vá ao cinema mirando o ‘Quarteto Fantástico’ de 2005 e nem ‘Poder sem Limites’, pois as impressões podem ser de que o reboot é uma obra prima ou uma decepção, respectivamente. Vá sem criar expectativas e com a mente aberta, esperando um bom filme de origem e, principalmente, uma produção de ficção científica com heróis que tem um gancho para uma continuação, cuja existência só as bilheterias podem garantir.